ResumoAs questões da (in)tolerância entre as religiões e da liberdade de crença e de pensamento não são novas para a história, ou melhor, não são exclusivas desta época. Basta lembrar, para os propósitos aqui arrolados, uma obra do período iluminista, o Tratado sobre a tolerância de Voltaire, que tratava precisamente disto. Em contrapartida, mesmo vivendo numa era de consolidação de fenômenos de secularização, como Gianni Vattimo entende ser a nossa – e que tem a ver com liberdade, celebração e respeito às diferenças –, ainda se vislumbra a intolerância para com diferentes crenças religiosas, e o não respeito, especialmente por parte de setores de religiões majoritárias como o cristianismo, ao princípio de laicidade do Estado. Em diálogo com o pensiero debole (pensamento fraco) de Vattimo, analisarei a proposta deste autor de migração da ideia de tolerância para a de caridade, como meio de mover-se para além de uma relação metafísica com a verdade nas religiões para a noção pouco comum às práticas e discursos religiosos de uma verdade kenótica, isto é, esvaziada de pretensões de correspondência e, por conseguinte, de imposição sobre outras.
AbstractThe questions of (in)tolerance between religions and of freedom of religion and thought are not new to history, or rather are not exclusive of this era. We need only to remind, for the purposes of this text, a work of the Enlightenment period, the Treatise on Tolerance by Voltaire. On the other hand, even living in an age that some authors, like Gianni Vattimo, believe to be a time of consolidation of secularization phenomena – something that invloves freedom, celebration and respect for the difference –, it is still possible to see intolerance towards different religions, and no respect, especially from sectors of major religions such as Christianity, for the principle of a secular state. In dialogue with Vattimo’s pensiero debole (weak thought), I examine in this paper the proposal made by this author of a migration from the idea of tolerance to that of charity, as a means to move from a metaphysical relationship with the truth in religions to the unusual notion in religious practices and discourses of a kenotic truth, that is, a truth free from assumptions of correspondence and from the intention of imposing it to other kinds of truth.
RésuméLes questions de l’(in)tolérance entre les religions, ainsi que de la liberté de croyance religieuse et de pensée, ne sont pas nouvelles pour l’histoire, ou plutôt ne sont pas propes de l’époque actuelle. Il suffit de rappeler une oeuvre de la période des Lumières, le Traité sur la tolérance de Voltaire. Par contre, même en vivant dans un âge que certains auteurs, comme Gianni Vattimo, croient être celui de la consolidation des phénomènes de sécularisation – ce qui a à voir avec la liberté, la célébration et le respect de la différence –, il est encore possible de témoigner l’intolérance à l’égard de différentes croyances religieuses et le manque de respect, en particulier de secteurs des grandes religions comme le christianisme, pour le principe de l’Etat laïque. En dialogue avec le pensiero debole (la pensée faible) de Vattimo, dans cet article je examine la proposition de cet auteur de migration de l’idée de tolérance à celle de charité, comme un moyen d’avancer d’une relation métaphysique avec la vérité dans les religions vers la notion inhabituelle dans les pratiques et les discours religieux d’une vérité kénotique, c’est à dire une vérité dépourvue de prétentions de correspondance et par conséquent d›imposition sur d›autres types de vérités.